Respeite minhas escolhas!
Dica: Mary Claire
Impossibilitadas de conciliar a fam�lia, o lazer e as tarefas dom�sticas ao trabalho de carteira assinada, e cansadas de lutar contra os preconceitos, as mulheres brasileiras encontraram no empreendedorismo uma maneira de combinar sua vida pessoal com uma atividade que gere renda e sucesso profissional. � o que revelam os dados divulgados pelo Servi�o de Prote��o ao Cr�dito (SPC Brasil), em uma pesquisa in�dita feita para o Dia Internacional da Mulher, com 601 mulheres donas de algum neg�cio.
Marie Claire conversou com Luiza Rodrigues, economista do �rg�o, para saber mais sobre esse grande n�mero de mulheres empreendedoras que aumenta no Brasil. Em busca de realiza��o pessoal e um ambiente mais justo, elas foram montar seus pr�prios neg�cios sozinhas e chamam a aten��o para o real problema do nosso mercado de trabalho.
Marie Claire: N�o � a primeira vez que uma pesquisa parecida � realizada no Brasil. Foi poss�vel perceber alguma diferen�a significativa no hist�rico da mulher trabalhadora brasileira com esta �ltima?
Luiza Rodrigues: A boa not�cia � que tem mais mulheres empreendendo. O que a gente percebe de mais not�vel, tamb�m, � a renda crescendo.
MC: Quais as causas mais importantes para esse crescimento de mulheres empreendedoras?
LR: As oportunidades que o Brasil est� oferecendo nos �ltimos anos s�o importantes. Al�m da demanda por servi�os, o hor�rio flex�vel � sempre � algo que chama as mulheres, principalmente as que t�m filhos.
MC: Entre os dados divulgados pela pesquisa, est� a estat�stica de que 72% das mulheres n�o abandonariam seus neg�cios pr�prios por um emprego de carteira assinada. Voc� acha que essa realidade pode afetar o mercado trabalhista? Como?
LR: N�o, acho que n�o. Essas mulheres j� est�o no mercado de trabalho. Elas ocupam uma parcela da popula��o e t�m um perfil diferente. N�o � o perfil da empregada. Ao contr�rio, elas v�o gerar mais empregos. Ent�o, � at� positivo para a sociedade que exista esse perfil, que est� gerando emprego para outras pessoas.
MC: Quais seriam os principais motivos da mulher brasileira preferir abrir seu pr�prio neg�cio ao inv�s de ter um emprego com carteira assinada?
LR: Elas t�m uma aptid�o, gostam disso, e muitas tamb�m foram estimuladas pela fam�lia. Tamb�m, a combina��o de demandas que as mulheres t�m que lidar acaba fazendo com que elas escolham o ramo do empreendedorismo. Nem sempre � pelo sal�rio.
MC: Seria esta, tamb�m, uma maneira de buscar um mercado trabalhista que seja mais justo com o sexo feminino?
LR: Com certeza. Poucas empresas aceitam hor�rios flex�veis, ent�o a mulher encontra uma maneira de ganhar pelo menos tanto quanto no mercado CLT, s� que com hor�rio flex�vel. � uma maneira dela combinar uma renda com a demanda dela. Imagina quantas empresas aceitariam que ela falasse �olha, eu quero trabalhar aqui, mas eu quero ter tr�s horas de almo�o para levar meus filhos no col�gio�. Poucas empresas aceitariam.
MC: Qual o real impacto que esses dados podem indicar na vida da mulher brasileira?
LR: Os dados nesta pesquisa ajudam a mulher a ver, em primeiro lugar, que tem outras como ela, e em segundo, que existem muitas mulheres que est�o lutando nessas batalhas sozinhas. Isso � muito interessante. At� do ponto de vista de poder p�blico. Existe um grande n�mero de mulheres no segmento informal porque n�o existe uma pol�tica voltada para tentar adaptar o mercado de trabalho para elas. Ser� que n�o vale a pena facilitar um pouco a abertura de empresas ou at� flexibilizar o mercado de trabalho para que as empresas aceitem um hor�rio mais flex�vel? Ser� que n�o existe nada que o poder p�blico possa fazer? Acho que essas pesquisas s�o muito importantes neste sentido, para chamar a aten��o do problema.
MC: Quais s�o as principais caracter�sticas das mulheres empreendedoras?
LR: A maioria j� tinha uma experi�ncia em empresa privada. Elas sabem como �, n�o � que elas nunca tiveram oportunidade. Elas escolheram trocar por este mundo do empreendedorismo. N�o foi uma falta de op��o, elas escolheram isso com baseamento.
MC: Voc� acredita que a busca por um neg�cio pr�prio tem a ver com a realiza��o pessoal da mulher brasileira?
LR: 49% abriu o neg�cio porque percebeu uma oportunidade e o segundo grande motivo foi porque gosta. Basicamente, todas as mulheres que a gente entrevistou falaram de realiza��o. � um fator de prazer para elas.
MC: As mulheres empreendedoras podem indicar um novo perfil da trabalhadora brasileira? Quais s�o as chances de que isso se torne cada vez mais comum?
LR: A gente ainda est� engatinhando no Brasil no ramo de empreendedorismo. Falta muito, at� na escola p�blica. Existem pa�ses que acreditam que empreendedorismo � um tema importante a ser ensinado. Muitas pessoas at� querem abrir um neg�cio, mas t�m medo e n�o sabem como fazer. Tem que abrir mais essa possibilidade, at� para gerar mais empresas e mais oportunidades. � importante ver como trabalha a empreendedora e como a gente pode melhorar essa situa��o. Est� muito claro pela nossa pesquisa que a empreendedora tem um r�tmo de trabalho, considerando a casa dela e o trabalho, muito intenso. Como � que a gente pode melhorar isso? Uma pol�tica p�blica pode melhorar isso? Ou como estimular isso para se tornar mais comum?
MC: Na pesquisa, mais de um ter�o das mulheres entrevistadas admitiram que abririam m�o do relacionamento pelo neg�cio, caso necess�rio, e 40% considerariam a op��o. Podemos considerar isso como um ind�cio de que a mulher brasileira est� buscando mais autonomia em sua vida profissional e pessoal?
LR: Sem d�vida. Isso � uma evid�ncia da liberdade dela. Claro que essa pergunta que a gente fez � extrema. Nossa pesquisa mostrou que, na maioria dos casos, o c�njuge respeita o trabalho dela. Agora, neste caso extremo, 30% nem teria d�vidas e 40% consideraria. � um grande n�mero de mulheres que est� dizendo �respeite minhas escolhas�, �respeite a minha liberdade�. � muito significativo.
MC: Com essa pesquisa foi poss�vel perceber qual o real desejo das mulheres no setor profissional?
LR: O primeiro maior desejo da mulher � conseguir conciliar toda a vida dela e tamb�m crescer profissionalmente. Est�o todas otimistas, querendo que o neg�cio cres�a, esperando este sucesso profissional. Isso � importante para elas. Acho que d� para resumir em duas grandes palavras: conciliar e sucesso. S�o as duas coisas que elas querem.

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